Editoria: Vininha F. Carvalho 25/05/2012
A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, uma das mais tradicionais financiadoras de projetos de conservação da natureza no Brasil, e a Fundação Araucária, instituição de fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico no estado do Paraná, estão unindo forças por meio do lançamento de um edital conjunto.
O objetivo é financiar projetos de instituições paranaenses que contribuam para a conservação da natureza no Paraná e, eventualmente, áreas correlatas. As inscrições poderão ser feitas a partir de julho diretamente no site.
O edital seguirá as linhas temáticas adotadas pela Fundação Grupo Boticário, com o diferencial de priorizar a região da Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucárias) e fitofisionomias associadas, além da região litorânea do Paraná e do sul de São Paulo (Lagamar).
Também devem ser priorizadas ações que envolvam a melhoria da implementação e gestão das unidades de conservação de proteção integral existentes nas respectivas regiões.
De acordo com a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes, o grande objetivo é que sejam gerados resultados práticos para a conservação da natureza dessas regiões, bem como informações básicas que subsidiem medidas conservacionistas efetivas.
“O ecossistema das Florestas com Araucárias é um dos mais ameaçados de extinção, com menos de 1% da mata nativa em bom estado de conservação no Paraná, por isso a grande preocupação em promover ações que contribuam para este tipo de floresta”, destaca.
Para o presidente da Fundação Araucária, Roberto Brofman, os interesses em comum de investir em ciência e tecnologia foram os responsáveis por tornar possível a parceria entre as entidades.
“Foi uma idéia conjunta e, por isso, optamos por unir esforços. Faz parte da nossa filosofia buscar parcerias para aumentar os investimentos no nosso estado”, ressalta.
Apoio financeiro:
A parceria tem duração inicialmente prevista para cinco anos, sendo lançado um edital por ano. O valor anual disponível para o edital será de R$ 600 mil e cada uma das fundações será responsável pelo repasse de 50% desse total. Com esse recurso conjunto, as instituições esperam apoiar, nesse primeiro edital, de quatro a seis projetos com duração de 12 a 36 meses.
Os formulários e mais detalhes dos processos de seleção serão disponibilizados no início de julho nas páginas eletrônicas das instituições. A data limite para o encaminhamento das propostas via formulários on line será 31 de agosto de 2012.
Poderão se inscrever somente pessoas jurídicas sem fins lucrativos com endereço de CNPJ no Paraná, sendo que, por questões de regulamentos internos, as instituições públicas deverão enviar suas propostas via formulário da Fundação Araucária e as instituições privadas via Fundação Grupo Boticário.
Linhas temáticas:
O Edital Fundação Grupo Boticário & Fundação Araucária seguirá as seis linhas temáticas abaixo, priorizando a região da Floresta com Araucárias e ecossistemas associados, além da região litorânea do Paraná e do sul de São Paulo (Lagamar) e ações voltadas às unidades de conservação de proteção integral destas regiões.
1. Ações e pesquisa para a conservação de espécies e comunidades silvestres em ecossistemas naturais;
2. Ações para implementação de políticas voltadas à conservação de ecossistemas naturais;
3. Ações para regeneração de ecossistemas naturais;
4. Ações para prevenção ou controle de espécies invasoras;
5. Estudos para criação ou manejo de unidades de conservação;
6. Pesquisa sobre vulnerabilidade, impacto e adaptação de espécies e ecossistemas às mudanças climáticas.
O Lagamar e a Floresta com Araucárias:
O Lagamar é uma parte da faixa costeira brasileira que se estende pelos litorais do Paraná e sul de São Paulo. Esta área é definida como prioritária para a conservação, por ser considerada o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica do Brasil e um dos maiores berçários de vida marinha no mundo.
A Floresta com Araucárias (Floresta Ombrófila Mista) é um dos ecossistemas mais ameaçados do Bioma Mata Atlântica que, por sua vez, é o mais ameaçado do Brasil.
No Paraná, originalmente a Floresta com Araucárias ocupava 8 milhões de hectares, o equivalente a 49,8% do estado. Hoje, restam menos de 60 mil hectares (0,8%) em bom estado de conservação e seus maiores remanescentes se localizam nas regiões de Guarapuava, União da Vitória e Palmas, no Centro Sul do Paraná, onde formam corredores, conforme estudo realizado em 2001, pela Fundação de Pesquisas Florestais, da Universidade Federal do Paraná.
Para os campos naturais associados, a situação é ainda mais crítica, uma vez que o Ministério do Meio Ambiente (2000) admitia que, no Paraná, remanescentes em estágio avançado de sucessão não passavam de 0,24% em relação à área original.
De forma geral, os remanescentes naturais da região da Floresta com Araucárias encontram-se fragmentados e dispersos, o que contribui para diminuir a variabilidade genética das espécies que a compõem, colocando-as sob efetivo risco de extinção. E, apesar dessa situação, as ameaças continuam.
A situação é agravada pela exploração ilegal de madeira e pela conversão dos ambientes naturais em áreas agrícolas e reflorestamento de espécies exóticas, aumentando ainda mais o isolamento e insularização dos remanescentes.