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Caramujo Africano, um “estrangeiro” indesejado

Editoria: Vininha F. Carvalho 26/05/2011

O caramujo-africano, cujo nome científico é Achatina fulica, é um molusco pulmonado da classe dos gastrópodos com concha cônica de coloração marrom ou mosqueada de tons claros. Seu comprimento de concha pode chegar a ordem de 10 cm e seu peso corpóreo em cerca de 100g.

Esse animal habita as áreas de bordas,favorecedoras de hábitos generalistas, das florestas tropicais do leste e oeste africano.
Esse fator evolutivo importante para o grupo, contudo, se transformou num pesadelo para os agricultores que encontraram dificuldades de controlar a disseminação desse organismo por todos os continentes durante o século passado, principalmente nas lavouras de banana, mamão, amendoim, café, cítricos e outras, bem como a destruição de grãos armazenados, de jardins e de hortas domésticas.

Em alguns países como Estados Unidos e Austrália, inclusive, são categorizados como pragas agrícolas. No Brasil, acredita-se que Achatina fulica tornou-se uma espécie invasora exótica durante a década de 80 do século passado quando produtores paranaenses importaram os animais numa tentativa de competição ao escargot (Helix sp.) em cozinhas mais sofisticadas. Por falta de conhecimento, infelizmente, esses produtores soltaram à natureza Achatina quando seus negócios não prosperavam.

Uma vez liberados no meio ambiente, eles não encontraram predadores naturais transformando-se no clássico exemplo ecológico de espécie invasora. Além, portanto, do claro problema agrícola causado, o aumento populacional de Achatina fulica é muito acelerado, não apenas devido a sua estratégia reprodutiva em que podem até realizarem a autofecundação por serem hermafroditas, mas também devido a sua voracidade alimentar em que cerca de 500 espécies de plantas faz parte de seu cardápio, o que causa a diminuição da disponibilidade de alimento para a fauna nativa, podendo haver alterações de paisagens naturais por consumo de biomassa verde, principalmente brotos e plantas jovens.

Há, ainda, indícios de que A. Fulica esteja causando diretamente ou indiretamente a diminuição da população do molusco gigante brasileiro aruá-do-mato (Megalobolimus sp) e de outro táxon nativo Pomacea sp por competição. Outro grande problema relacionado a invasão dessa espécie é a transmissão de
doenças.

O parasita mais comum transmitido pelo molusco é Angiostrongylus costaricensis uma vez que as larvas desse nematóide são facilmente obtidas através da ingestão de fezes de ratos. A infecção humana é acidental, pela ingestão de verduras, hortaliças e, provavelmente, de água contaminada com larvas dos parasitas que se encontram no muco que o molusco libera ao se deslocar.

Nesses casos a doença é conhecida como angiostrongilíase meningoencefálica que, apesar do nome intimidador, representa apenas uma meningite branda e facilmente curável. Doença mais perigosa é a causada pelo também nematóide Angiostrongylus cantonensis que, no mesmo ciclo de infecção apresentado por A. costaricensis, é o causador de meningoencefalite mais aguda (angiostrongilíase).

Até o momento esse verme não está descrito em território brasileiro apesar de estar presente em países como Cuba e Porto Rico demonstrando a necessidade de um maior controle e atenção a esses moluscos.

Caso curioso, entretanto, é o caramujo-africano se apresentar como “vetor” de uma doença extremamente discutida no Brasil nos últimos anos: a Dengue. A alta disseminação desse molusco e o crescimento populacional desenfreado proporcionam uma enorme quantidade de conchas vazias durante as épocas mais quentes do ano, período o qual esse molusco sofre seu processo de crescimento.

A água acumulada nessas conchas pelas chuvas durante esses períodos mais quentes são excelentes criadouros naturais para as larvas do mosquito Aedes que transmitem o vírus da dengue.
É visível então que regiões com alta incidência de dengue, como a cidade de Bauru,interior de São Paulo, devem tomar um cuidado a mais com Achatina fulica pois sua proliferação só favorece, também, o descontrole da dengue.

O aspecto do controle e eliminação desse molusco são importantes tanto para o restabelecimento ecológico de um ambiente, assim como, para o controle de saúde pública. Contudo, os métodos de eliminação desse organismo ainda são pouco estudados. Sabe-se que não há como ter um controle biológico eficaz uma vez que os predadores desse animal são ainda mais generalistas podendo ocasionar um maior desequilíbrio ecológico.

O controle químico também não é recomendado por matar também moluscos nativos de nossa fauna causando desequilíbrio ecológico além de ocasionar problemas no solo, água e intoxicação antrópica.

Resta o controle físico que consiste na captura e consequente eliminação desses caramujos e seus ovos in natura. Achatina fulica é um clássico exemplo de como o despreparo e desconhecimento de manejo de fauna podem ocasionar problemas em vários viéses de uma comunidade.

Fonte: Renato Pirani Ghilardi e Rogério Caetano da Costa - DCB-FC-Unesp/Bauru - Revista UNESP