Ave de Rapina
Onça
Cachorro
Cavalo
Gato
Arara

Biopirataria: Crueldade e Ousadia

Editoria: Vininha F. Carvalho 14/09/2007

Histórias da biopirataria no Brasil começaram logo após a chegada dos portugueses em 1500, quando os mesmos roubaram dos povos indígenas o segredo de como extrair um pigmento vermelho do Pau Brasil ou como curar algumas enfermidades a partir de ervas medicinais.

Com o passar dos anos a biopirataria deixou de ser apenas o contrabando da fauna e da flora, mas principalmente, a apropriação e monopolização dos conhecimentos no que se refere ao uso dos recursos naturais.

O roubo ou pirataria de recursos genéticos e biológicos ocorre quando pesquisadores estrangeiros levam plantas, insetos, animais diversos, frutos, etc. sem o consentimento do governo brasileiro com a finalidade de estudá-los visando obter lucros. Ou seja, eles patenteiam seres vivos ou algo deles derivado (um código genético, uma enzima, etc.), o que vai lhes garantir lucros por meio do recebimento dos royalties (importância cobrada pelo proprietário de uma patente de produto ou pelo autor de uma obra, para permitir seu uso ou comercialização).

O nome "cupuaçu", por exemplo, vira uma marca e não pode ser usado por outras pessoas, e o mesmo acontece com diversas técnicas tradicionais.

Segundo um relatório elaborado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a venda clandestina de animais silvestres e plantas medicinais para pesquisas no exterior resultam ao Brasil enormes prejuízos ambientais e econômicos, sendo a falta de fiscalização um dos principais motivos para que isso ocorra.

Dados recentes revelam que a pirataria já superou em rendimento o tráfico de armas e drogas e possivelmente é a atividade ilícita mais rentável do mundo.

A Convenção da Diversidade Biológica, documento assinado pelo governo brasileiro durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92), propõe regras para assegurar a conservação da biodiversidade, o seu uso sustentável e a justa repartição dos benefícios provenientes do uso econômico dos recursos genéticos, respeitando a soberania de cada nação sobre o patrimônio existente em seu território.

Apesar dos alertas e documentos existentes para reduzir a biopirataria, estes esforços parecem tímidos quando comparados à ganância dos especuladores e das empresas multinacionais que vêm cada vez mais se apossando, de maneira cruel, das riquezas do nosso país e principalmente da Amazônia.

Por trás da biopirataria diversas atrocidades ocorrem, pois dos 38 milhões de animais capturados ilegalmente por ano no Brasil somente 10% são comercializados, os 90% restantes morrem ao serem transportados.

Maletas e tubos de PVC são bastante utilizados para o transporte de aves para outras regiões e para fazer com que os animais caibam nesses recipientes, muitas vezes é preciso quebrar-lhes o osso do peito, o que serve também para mantê-las quietas, pois a dor as paralisa. Outra maneira de acalmar a bicharada é injetar-lhes álcool. É assim que se faz normalmente com micos e macacos.
Sabemos que não é possível combater a biopirataria só com fiscalizações.

Investimentos em ciência e tecnologias também são essenciais, pois o Brasil precisa conhecer a sua biodiversidade para poder protegê-la melhor e a contribuição de instituições nacionais e internacionais é indispensável para ajudar a entender e resolver os problemas ligados a essa questão.

O poder do tráfico:

- O trafico de animais silvestres movimenta aproximadamente 1,5 bilhões de dólares por ano no Brasil;

- Cerca de 90% dos 38 milhões de animais capturados anualmente por trafico morrem antes de chegar ao destino;

- A venda dos 10% restantes resultam num lucro astronômico. Uma arara-azul pode chegar a valer 60 000 dólares no mercado internacional, e há espécies de besouros cotadas a 8 000 dólares;

- A internet é um dos meios mais utilizados para a venda ilegal de animais silvestres. Em três meses de rastreamento, a ONG Renctas identificou 5.000 sites dedicados a esse fim;

- Os produtos amazônicos com reconhecido poder medicinal mais procurados pelos piratas da floresta são a casca do Jatobá, casca do Ipê-roxo, folha da pata-de-vaca, cipó da unha-de-gato, casca da canelão e da catuaba.

De acordo com estudos realizados por pesquisadores brasileiros foram identificadas 105 espécies medicinais, que estão entre as mais visadas da Amazônia.


Autoria : Rômulo Lima Meira - Professor de Geografia do CEFET (UNED Vitória da Conquista – BA).

Fonte: Rômulo Lima Meira