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Poema : Um incrível Natal

Editoria: Vininha F. Carvalho 08/12/2006

Num tosco ranchinho, no rústico leito de palhas e folhas, deitado ele estava. Quem foi ou quem era, ninguém perguntou, ninguém se importou, ninguém quis saber...

E a boca do povo falava:


Era João, o filho do vento


Que andava no mato,


Dormia ao relento


Cercado de cães,


Quais filhos sem mães...


Um homem esquisito


De olhar infinito


Distante do mundo,


Do mal, do pecado...


Mas João moribundo

Viveu seu bocado:

Amou, teve sonhos,

Sem queixas sofreu.

Aquela, seria uma noite especial...

Seus cães ansiosos estavam

para a ceia do Natal...

Estava apetitoso o alimento já pronto.

As brasas piscavam nas cinzas como estrelas no céu e a noite caminhava...

A vela acesa, clareava no rosto de João um sorriso.

Deitados junto ao dono, os cães permaneciam à espera de que João se levantasse para que juntos pudessem se alegrar na hora da ceia. Mas João “dormia”...

O aroma da comida invadiu a noite, levando algumas pessoas até lá. E aquela cena, nunca vista, chocou a todos que ali chegavam. Cheios de compaixão, tomaram as providências para que o corpo de João pudesse ter o seu repouso num lugar digno de um ser humano; e com os corações transbordando de amor, aquelas pessoas, tocadas no mais íntimo de suas almas, adotaram os fiéis amigos de João.

Ao saírem com seus cães, uma surpresa inesperada aconteceu:

Todos os cães se dirigiram aos locais onde João trabalhava em prol da Humanidade. Ao ver tanta injustiça entre os homens, tanta violência e desamor, João um dia se isolou e, embrenhou-se nas florestas, onde as queimadas destruíam tudo, até mesmo pássaros nos ninhos... Então, como um sábio solitário, pacientemente, ensinava aos seus cães a cavarem buracos na terra, onde ele depositava uma variedade enorme de sementes que um dia, brotariam e, com o tempo se transformariam em frondosas árvores ...

Foram anos de trabalho e de estreita amizade. Quando em suas andanças, voltando aos lugares onde plantavam as preciosas sementes, árvores frutíferas ofereciam-lhes os seus frutos e balançavam seus braços recebendo-os com o frescor de suas sombras e o perfume de suas folhas.

E foi assim que, naquela noite de Natal,

João, o filho do vento

Que dormia ao relento,

Deu ao mundo uma incrível lição de amor.









Fonte: Leopoldina de Menezes Pereira Cintra (Nina) -escritora - MG