Editoria: Vininha F. Carvalho 27/03/2009
O vapor dágua gerado na Amazônia e transportado pelas massas de ar tem impacto decisivo sobre o clima nas demais regiões do Brasil e principalmente sobre o ciclo de chuvas no Sul e no Sudeste. Essas são algumas das conclusões a que chegou a equipe do Projeto Rios Voadores, coordenado há dois anos pelo engenheiro e ambientalista Gérard Moss, com patrocínio de R$ 3,45 milhões do Programa Petrobras Ambiental e parceria da Agência Nacional de Águas (ANA). As conclusões foram divulgadas no dia 18 de março, em São Paulo.
As informações recolhidas pela equipe de pesquisadores permitirão mostrar até que ponto o desmatamento da região amazônica poderá afetar o clima brasileiro e como tal degradação pode alterar o ciclo hidrológico, que se refere à distribuição e circulação da água na natureza. Dessa forma, será possível compreender melhor as causas tanto das grandes tempestades quanto dos extensos períodos de seca.
"O objetivo do estudo é entender melhor o trajeto percorrido por esses verdadeiros rios voadores, que viajam sobre nossas cabeças e podem ter volume maior que a vazão de todos os rios do Centro-Oeste, Sudeste e Sul", explica Gérard, que já fez 12 viagens sobrevoando o Brasil em um avião monomotor. Nessa expedição, ele recolheu cerca de 500 amostras de vapor dágua em diferentes camadas atmosféricas, entre 500 e 2 mil metros acima do nível do mar.
As amostras são recolhidas em um coletor externo instalado no avião, que capta o ar ambiente e o direciona a um tubo de vidro, que por sua vez é resfriado em gelo seco (-80ºC), para condensar a umidade em uma gota dentro do tubo. A partir daí, as amostras são analisadas no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), em Piracicaba (SP). Com base nas propriedades dessa gota dágua são definidos origem, dinâmica e deslocamento da água carregada pela massa de ar.
A coordenação científica do Projeto Rios Voadores é de Enéas Salati, agrônomo diretor Técnico da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS). Estudos realizados por ele há 30 anos revelaram que 44% do fluxo de vapor dágua que penetra na região amazônica vindo do Oceano Atlântico condicionam o clima da América do Sul e atingem as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Essas pesquisas são utilizadas até hoje como base para o conhecimento hidrológico da região e foram fundamentais para a elaboração do Projeto Rios Voadores.
Efeitos do desmatamento:
De acordo com dados do Projeto Rios Voadores, existe uma forte recirculação de água entre a superfície e a atmosfera, causada pela transpiração das plantas que compõem a floresta, o que contribui para os altos níveis de precipitação na Amazônia, que chegam a ultrapassar 2.400 mm/ano. Por isso, a destruição da floresta provoca alterações, ainda difíceis de quantificar.
"Uma árvore de grande porte coloca cerca de 300 litros de água por dia na atmosfera. Sua retirada não atinge somente a Amazônia, mas todas as outras regiões para onde a água é transportada pelos ventos. Tivemos no Brasil cerca de 600 mil quilômetros de terras desmatadas nos últimos 30 anos. Ainda não sabemos mensurar com precisão qual o impacto sobre o clima", observa Gérard Moss.
Conforme o coordenador da pesquisa, apesar de a Amazônia legal representar, em média, 10% da população e do PIB do país, recebe pouco investimento em tecnologia. "É justamente lá que deveria haver muito mais investimento. O clima de São Paulo não tem impacto sobre a Amazônia, mas a região amazônica faz toda a diferença no restante do Brasil e até mesmo em outros países", completa o pesquisador.
O Rios Voadores também tem o objetivo de aproximar a população dos grandes centros urbanos das questões relacionadas ao meio ambiente que a afetam diretamente, além de alertá-la sobre a importância do uso racional da água. Entre as cidades visitadas por Gérard durante a expedição do Rios Voadores estão Belém, Santarém, Manaus, Alta Floresta, Porto Velho, Cuiabá, Uberlândia, Londrina e Ribeirão Preto.
O Rios Voadores é um desdobramento do Projeto Brasil das Águas, que foi selecionado pelo Programa Petrobras Ambiental em 2003.
Água e clima são os temas do Programa Petrobras Ambiental
A Petrobras está desenvolvendo, desde o ano passado, uma nova etapa do Programa Petrobras Ambiental, que até 2012 destinará R$ 500 milhões a ações estratégicas, incluindo patrocínios, fortalecimento das organizações ambientais e suas redes e disseminação de informações sobre o desenvolvimento sustentável.
O Programa tem como tema "Água e clima: Contribuições para o desenvolvimento sustentável", o que representa uma ampliação em relação à fase anterior, cuja temática abrangia a água e sua biodiversidade.
A mudança teve como objetivo adequar o Programa ao cenário ambiental atual e previsto para os próximos anos, alinhando as ações aos novos desafios de gestão da Companhia, no que se refere à responsabilidade social e mudanças clim& aacute;ticas.
O Programa Petrobras Ambiental abrange, além dos projetos escolhidos por seleção pública, iniciativas que já eram apoiadas antes da criação do programa, por também se enquadrarem à política de patrocínio da Companhia.
Dessa forma, a Companhia busca valorizar a carteira de projetos que, por tradição, ao preservarem os recursos naturais e o desenvolvimento humano, aproximam ainda mais a Petrobras da defesa do meio ambiente e da melhoria da qualidade de vida das comunidades.
As três linhas de atuação do Programa Petrobras Ambiental 2008-2012 são:
- Gestão de corpos hídricos superficiais e subterrâneos, com ações voltadas para reversão de processos de degradação dos recursos hídricos e promoção e práticas de uso racional desses recursos;
- Recuperação ou conservação de espécies e ambientes costeiros, marinhos e de água doce;
- Emissões evitadas de carbono, com base na recuperação de áreas degradadas, reconversão produtiva (mudança na atividade econômica) e conservação de florestas e áreas naturais;
As duas primeiras seleções públicas realizadas, em 2004 e 2006, contemplaram projetos selecionados que desenvolvem ações a partir da promoção e conscientização sobre o uso racional dos recursos hídricos; da manutenção e a recuperação das paisagens visando ao equilíbrio do ciclo hidrológico; e da promoção da gestão ambiental voltada para a preservação das espécies ameaçadas e a conservação dos ambientes marinhos ameaçados.
Em 2008, foi realizada a terceira seleção pública, que contemplou 47 de 892 projetos inscritos. Eles receberão, no total, R$ 60 milhões para iniciativas a serem desenvolvidas até 2010.