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Instituto Biológico desenvolve pesquisas em Manejo Integrado de Pragas na cultura da goiaba.

Editoria: Vininha F. Carvalho 27/03/2009

O Instituto Biológico (IB-APTA), órgão ligado a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, através dos Laboratórios de Entomologia Econômica e de Controle Biológico, vem desenvolvendo pesquisas em Manejo Integrado de Pragas na cultura da goiaba.

Essas pesquisas tomaram vulto a partir de 2002 com o surgimento do Comitê Gestor da Produção Integrada de Goiaba (PIF Goiaba) liderada pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) onde o IB teve participação ativa frente à área de Proteção Integrada da Planta.

Desde então até o momento as pesquisas na cultura da goiaba tem dado continuidade em face da carência de informações em fitossanidade e pela importância que essa cultura representa para o Estado de São Paulo tanto no âmbito da Agricultura Familiar quanto no ranking de produção da fruta no país (maior produtor brasileiro).

A fruticultura brasileira tem alcançado muitos avanços tecnológicos, no entanto, o fruticultor ainda enfrenta diversos problemas que interferem na produtividade e qualidade das frutas nacionais, principalmente os relacionados com a área fitossanitária, que direta ou indiretamente tem comprometido as exportações brasileiras.

O Manejo Integrado de Pragas (MIP) representa um avanço significativo como sistema racional de controle de pragas em frutíferas, pois tem como principal objetivo à utilização mínima de agroquímicos, no sentido de amenizar problemas de contaminação do ambiente e, conseqüentemente, diminuir as taxas de resíduos no produto final, garantindo assim uma melhor qualidade de vida tanto para o produtor como para o consumidor.

O MIP é definido como um sistema de apoio a decisões para seleção e uso de táticas de controle de pragas, usadas individualmente ou harmoniosamente coordenadas em estratégias de manejo, baseado em análises de custo e benefício, que levam em conta os interesses dos produtores, os impactos na sociedade e no meio ambiente (Kogan, 1998).

Verifica-se, pela definição, que o MIP dá ênfase ao processo de tomada de decisão, que é o componente básico que o distingue do sistema convencional de controle de pragas. Quanto ao termo praga, é conceituado como qualquer organismo vivo, microorganismo, planta ou animal detrimental ao homem.

Portanto, no MIP todas as categorias de organismos vivos que acarretam danos econômicos aos cultivos, são consideradas pragas. Com exceção da cultura dos citros, as frutíferas tropicais, incluindo-se a goiaba, carecem de estudos sobre taxonomia, biologia, comportamento e ecologia das principais pragas, sobre os diversos agroecossistemas formados pelas explorações frutícolas, sobre os sistemas de tomada de decisão (monitoramento e amostragem) e sobre as táticas de controle, que constituem informações essenciais para aplicação correta do MIP.

A goiabeira é conduzida, no Estado de São Paulo, sob dois sistemas distintos: poda contínua e poda total (= poda drástica). O primeiro de poda consiste na operação dessa prática em várias partes da planta, resultando em vários ciclos fenológicos ao mesmo tempo (ou seja: brotação de novos ramos, botões florais, flores abertas; frutos verdes e frutos maduros na mesma planta), sendo que do ponto de vista fitossanitário, seria praticamente impossível aplicar as táticas de controle de forma correta e organizada, principalmente com relação o controle químico, pois não haveria como respeitar o período de carência dos agrotóxicos.

Na poda total, atividade mais tecnificada, a época de produção é regulada pela poda de frutificação, ou seja, cada safra da cultura se inicia pela poda de frutificação, que estimula novas brotações, resultando em um novo ciclo reprodutivo.

Para a aplicação adequada do MIP, é recomendado que a goiabeira seja conduzida pelo sistema de poda total, uma vez que esta operação uniformiza fenologicamente todas as plantas da área de cultivo ou do talhão.

O conhecimento dos estádios fenológicos da goiabeira é fundamental para definir os períodos críticos da cultura com relação às suas principais pragas. Atualmente, para o Estado de São Paulo, são consideradas pragas-chave da cultura da goiaba, cinco espécies para as quais deve-se orientar o monitoramento e o controle: besouro-amarelo (Costalimaita ferruginea), gorgulho (Conotrachelus psidii), percevejos (Monalonion spp., Leptoglossus spp.) e psilídeos (Triozoida limbata) e moscas-das-frutas (Anastrepha fraterculus, A. sororcula e outras), para os quais foram estabelecidos níveis de ação empíricos.

É importante enfatizar que os produtores que efetuam o ensacamento dos frutos controlam efetivamente as moscas-das-frutas e o gorgulho, ou seja, os frutos são ensacados ao alcançarem cerca de 2-3 cm de diâmetro. Nos cultivos de goiaba em que a produção se destina à exportação, as moscas-das-frutas são consideradas as mais importantes do ponto de vista quarentenário.

Além dessas pragas-chave, os estudos de monitoramento nos pomares têm detectado o surgimento de outras pragas, causando sérios prejuízos à goiabeira, tais como o ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus), vespinha-da-goiaba (Eurytoma sp.), lagarta-do-ponteiro (Lepidoptera: Tortricidae) e lagarta-do-fruto (Lepidoptera: Tortricidae), devendo-se notar que com relação a essas duas lagartas, não há nenhuma informação relatada sobre a sua ocorrência em goiabeira, desconhecendo-se por completo a sua taxonomia e biologia.

Outros componentes de grande importância para o bom andamento do MIP são os inimigos naturais das pragas presentes no pomar de goiaba. Embora seja sabido que a relação de espécies conhecidas não é pequena, pouco se sabe da real capacidade de controle desse grupo de organismos na cultura da goiaba.

Além disto, a ação dos inimigos naturais é muito afetada pelo modo que o homem maneja o ambiente. Visando aumentar esse conhecimento, bem como a relação de agentes de controle natural existentes, desde o início da equipe da PIF-Goiaba, levantamentos periódicos têm sido realizados na região de Campinas, onde alguns resultados já foram obtidos.

Para os percevejos do gênero Leptoglossus, por exemplo, verificou-se que cerca de 80% dos ovos depositados nas goiabeiras estavam parasitados pelos micro-himenópteros Neorileya sp. (Hymenoptera: Eurytomidae) e Gryon sp. (Hymenoptera: Scelionidae).

Atacando o psilídeo foi encontrada uma espécie de joaninha, Olla abdominalis (Coleoptera: Coccinellidae), larvas de uma mosca da família Syrphidae e o parasitóide Psyllaephagus trioziphagus (Hymenoptera: Encyrtidae) (taxa de 40% de parasitismo observado no campo). Também com o objetivo de ampliar a utilização do controle biológico na cultura da goiaba, ensaios para avaliação de patogenicidade de microorganismos às pragas-chave têm sido realizados e alguns ainda se encontram em fase de testes.

Como exemplo foi verificado que o fungo Lecanicillium lecanii é o mais indicado para o controle biológico do psilídeo (Triozoida limbata), não só por se mostrar o mais patogênico a esta praga, mas também por ser menos afetado por vários agrotóxicos testados (fungicidas e inseticidas).

Testes experimentais utilizando nematóides entomopatogênicos no controle biológico do gorgulho (Conotrachelus psidii) ainda se encontram em andamento, no entanto, experimentos preliminares indicaram resultados promissores.

A implementação do MIP na cultura da goiaba nos reserva um grande desafio, pois diversos fatores de ordem regulatória, econômica, ambiental, de proteção humana, ecológica, de práticas culturais e as variações de clima, determinarão o uso desse sistema no futuro.

Portanto, a aplicação do MIP não ficará apenas sob a responsabilidade do produtor, mas a ação deverá ser conjunta, envolvendo as instituições de pesquisa, de extensão e toda a cadeia produtiva da fruta. Para tanto, como a capacitação de recursos humanos é primordial para a aplicação racional do MIP, o material entomológico que tem sido coletado nesses levantamentos está sendo preparado e fotografado para a elaboração de um manual ilustrado contendo os insetos pragas em suas diversas fases de desenvolvimento e também dos seus inimigos naturais, que posteriormente servirá para orientar os técnicos e produtores nas inspeções no campo.


Serviço:

Instituto Biológico/APTA, Caixa Postal 70, CEP 13012-970, Campinas, SP


Fonte: Marcela Melo

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